Como Combater Náuseas e Vômitos na Gravidez com a Alimentação:
Amamentar não é algo tão intuitivo para os seres humanos como é para outros mamíferos.
Como Combater Náuseas e Vômitos na Gravidez com a Alimentação: Dicas de alimentos que ajudam a aliviar os sintomas.
Quantas mulheres não descobrem que estão grávidas quando começam a sentir enjoos e até vomitam sem nenhuma razão aparente, não é?!
Mesmo não sendo sintomas tão agradáveis de serem vividos, as náuseas e os vômitos são muito comuns no 1º trimestre gestacional, normalmente ocorrem entre a 7° e a 10° semanas, podendo iniciar até antes, com 4 semanas.
As causas
As causas são desconhecidas, mas algumas são apontadas como possíveis etiologias das náuseas e vômitos, como: níveis elevados de HCG (gonadotrofina coriônica humana), aumento de estradiol materno e fetal (em caso de bebê menina), aumento de progesterona, deficiência de vitamina B6, infecção por Helicobacter pylori e fatores psicológicos (como gestação indesejada, por exemplo).
Sabemos que eles são comuns, mas dependendo da intensidade e duração desse quadro, a gestante pode ter a sua rotina afetada negativamente, assim como a sua qualidade de vida e também pode comprometer seu estado nutricional. Na maioria dos casos, os sintomas são mais intensos pela manhã, conseguindo até serem contornados com algumas mudanças na alimentação, o que reforça a importância do acompanhamento com nutricionista (pré-natal nutricional) desde o início da gestação.
Algumas gestantes, em torno de 3%, podem evoluir para uma forma mais grave do quadro, com volume de vômito elevadíssimo chamada de hiperêmese gravídica. Nesse caso, a presença de vômitos incontroláveis, podem estar associados a distúrbios nutricionais, com alterações de água e eletrólitos corporais entre outros problemas metabólicos que podem levar a necessidade de internação hospitalar para hidratação e até nutrição parenteral.
Diagnóstico
Diante do diagnóstico de hiperêmese gravídica, é importante fazer uma investigação cautelosa para que sejam excluídas causas secundárias (como uso de alguns medicamentos, tumores cerebrais ou meningite, labirintite ou gastroenterite) e possam ser feitas as intervenções corretas.
Nessa figura a seguir você conseguir entender o passo a passa da investigação a ser feita em cada caso.
Figura 1: Conduta recomendada pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia para tratamento de gestantes que apresentam náuseas e vômitos na gestação
Como a nutrição contribui para melhora dos sintomas
Diante do aparecimento de náuseas e vômitos, o que acontece é que muitas gestantes desenvolvem aversão alimentar e redução do apetite, portanto, é indicado, antes de iniciar o uso de medicações, fazer alterações alimentares que podem eliminar a necessidade de medicamentos, como:
1. Ingerir pequenas quantidades de alimentos com mais frequência, como a cada 2-3 horas;
2. Beber pequenas quantidades de líquidos, várias vezes ao dia, principalmente água e sucos de frutas naturais;
3. Evitar ficar muito tempo sem comer (pode ser que seja necessário ou fracionar o lanche da tarde e/ou incluir um lanche noturno);
4. Evitar odores e texturas dos alimentos que desencadeiam náuseas;
5. Evitar líquidos durante as refeições (indicado ingerir água 30 minutos antes e 60 minutos após o almoço e o jantar);
6. Dar preferência aos alimentos sólidos, secos e ricos em carboidratos pela manhã, como frutas, cereais integrais, bolacha de arroz, tapioca, batata doce, inhame;
7. Evitar frituras, alimentos com odor forte e muito tempero;
8. Evitar deitar-se após as refeições;
9. O sabor cítrico e a temperatura gelada são mais bem tolerados, portanto devem ser encorajados (gengibre, limão, gelo, picolé)
Familiares e amigos devem ser inseridos nesse contexto para te auxiliar a atravessar essa fase da melhor forma como no preparo das refeições ou do ambiente, visto que algumas não toleram lugares abafados ou odores de comida.
Somado a essas condutas, é importante incluir na rotina alimentar alimentos ricos em vitamina B6, magnésio e potássio para auxiliar no tratamento e reposição das perdas pelos vômitos.
Quadro 1: Alimentos ricos em vitamina B6, magnésio e potássio.
A reposição de tiamina, piridoxina e ácido fólico também são recomendadas e devem ser feitas de forma individualizada.
Alternativas terapêuticas naturais
Atualmente já se reconhece a importância do gengibre e da vitamina B6 como primeiras intervenções em alternativa à farmacológica. Vamos entender um pouco mais sobre essas alternativas terapêuticas?
Gengibre
É muito valorizado com uma erva medicinal por ser segura na gestação para alívio de distúrbios gastrointestinais (ação antiemética). Uma das classes de fitoquímicos presentes no gengibre, as zingeronas, explicam seus efeitos farmacológicos.
Os gingeróis, em particular o 6-gingerol, foram sugeridos como prováveis princípios ativos do gengibre, com capacidade de aumentar a velocidade do trânsito intestinal, estimulando o esvaziamento gástrico e proporcionando, assim, o alívio das náuseas.
Este, pode ser ingerido em cápsula, como pó em preparações culinárias, beber com água, fazer chá (infusão), mascar lascas do alimento, balas, etc.
Vitamina B6
A piridoxina é recomendada como agente antiemético uma vez que modula a formação e degradação de neurotransmissores envolvidos com as náuseas e vômitos gestacionais. A vitamina B6 tem mostrado eficácia, segurança e ausência de efeitos colaterais, especialmente sonolência, e por não apresentar risco teratogênico em gestantes.
A prescrição deve ser acompanhada por um profissional, reforçando cada vez mais a necessidade de um pré-natal multiprofissional para um cuidado mais integrado de mãe e bebê.
Portanto, o pré-natal nutricional deve ser iniciado desde o conhecimento da gestação tanto para prevenir como tratar sintomas, carências nutricionais ou alterações metabólicas, visando o cuidado de mãe e bebê, para auxiliar no bem-estar e na melhora da qualidade de vida para a gestante.
Desejo que esse artigo te ajude a atravessar melhor essa fase!
Com carinho, Camila Motta
Nutricionista Materno Infantil Integrativa
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